quarta-feira, novembro 09, 2005

Vai-se a chuva, brilha o sol...

segunda-feira, novembro 07, 2005

ENTARDECER DE CHUVA

Como lágrima na face do rosto
Chove torrencialmente no pinhal,
Escoa-se a chuva que morre
Nos penedos por onde escorre
Com eco abafado e igual
Pelas quebradas ao sol-posto.

Gemem carros pelo caminho
Em estridente e agudo canto,
Carregam pinheiros pesados
Pela resina ensanguentados,
Enquanto o vento com pranto
As ovelhas afaga de mansinho.

Sacudido por brisas frescas
Baloiça o pinhal ao vento,
Cai copiosa chuva na sama
Que ao rebanho serve de cama
Na busca do viçoso alimento
Escondido entre as giestas.

No outeiro soam baladas
Que na flauta toca o pastor
E o rebanho atento escuta
Na azáfama e na labuta
Do viver e do seu labor
Num ecoar pelas quebradas.

O sol adormece no seu leito,
A sombra alastra lentamente,
Invade o barroco adormecido
Como fantasma perdido
Nas entranhas do vale dormente
Por onde corre riacho estreito

Cheia de silêncio e nevoeiro
Cerra-se a noite moribunda,
Enquanto o cão atarefado
Conduz o rebanho apressado
No pinhal onde o escuro abunda
Rumo ao curral estrumeiro.

quarta-feira, outubro 26, 2005


Pesam os anos na idade...

terça-feira, outubro 25, 2005

OS VELHINHOS

Quando olho os trôpegos velhinhos
Trémulos no andar rumo ao sol-posto,
Lembra-me os caminheiros sozinhos
Com o cansaço estampado no rosto.

Nas noites calmas vigiam, acordados,
O luar que lentamente desaparece
E revivem dos tempos passados
Os sonhos que a mente não esquece.

Solitários nas escuras noites sem sono
Com memória quase esgotada e gasta,
São como folhas caducas no Outono

Perdidos nas recordações primeiras
Com o pesado corpo que se arrasta
Empurrado pelas forças derradeiras...

No imenso deserto o calor aperta...

MIRAGEM

Olhava-te e eras o nada,
Mas ao olhar-te apercebia
Que o teu ser existia
Para lá do horizonte
Com corpo e alma!...
Eras virtual imagem
A bailar mesmo defronte
Pelas areias afogada!...
Vestida de manto multicolor
Tremulando na ilusão
E esbatida na paisagem,
Eras como simples miragem
Perdida na imensidão!...
Tu existias na verdade
Com as tuas casas e artérias
Casada com areia e calor,
Confundindo a realidade
Com o teu brilho sedutor
Mas com vida nas tuas veias!...

segunda-feira, outubro 24, 2005

DIAS FELIZES

Como os dias corriam lentos
Na minha juventude eterna
E pareciam parados nos tempos
Tal era a placidez amena
Do relógio no tempo ritmado
Que marcava a hora serena
Num compasso matraqueado!...

Como rolavam como calmo mar
Em que as ondas beijavam areias
Duma praia ainda morna do sol
Com corações que batiam apressados
No calor da chama que os animava
Com sonhos pelo amor abrasados
E em que os corpos se casavam
No lençol da areia fina deitados!...

Como eram perfumados os campos
Tintos de silvestres flores
E de negras amoras maduras
Que emolduravam os quadros naturais
Com multicolores enfeites e cores
Que faulhavam e cintilavam nas dunas
E no silêncio e sossego das serras,
Onde só o murmurar das fontes
E o longínquo cantar dos pássaros
Morava naqueles ermos montes!...

Como se escoavam as tardes rosadas
No entardecer de panorâmico encanto
Quando o astro rei dava o último sorriso
Antes de recolher ao seu nocturno leito
Nos braços de Morfeu adormecido
E pelas deusas do paraíso embalado
Reparava as forças e o sono perdidos
No seu morno canto aconchegado!...


A MORTE DA ANDORINHA

Já não voa a andorinha pequenina
Que os ares alegrava com graça
Quebraram-lhe a asa franzina,
Jaz ferida de morte na praça.

Seu encantador trinado e chilreio
Morreu estrangulado pela dor
E as belas tardes de enleio
Desventuradas perderam brilho e cor.

No voo cheio de grácil melodia,
Cortando o primaveril aguaceiro
Cantava enamorada de alegria
Na construção do seu lar primeiro.

Já não geme a guitarra afã
Seu trinado também se perdeu,
Calou-se uma voz amiga e irmã
E com saudade da andorinha morreu.

Mais pobre ficou a primavera
Por ter perdido algum encanto
Morreu a andorinha que era
O arauto que alegrava com canto
Os campos cheios de quimera
Que no silêncio calaram o pranto.

RIO ZÊZERE

Ora se diverte nos socalcos da serra,
ora se espraia em pleno abraço,
ora estruma o lodeiro que encerra
o pão da vida que enche o regaço.

Ora murmura docemente nas areias,
ora saltita pelas rochas limadas,
ora se mostra arrogante e sem peias,
caindo em cascata das alcantiladas.

Ora se aperta em garganta estreita,
ora se sorri com renovado alento,
ora se aquece com sol que espreita
entre pinheiros abanados por vento.

Ora cintila em espelhado lago,
ora perfuma suas águas cristalinas,
por fim, entrega-se com terno afago,
nos braços de prados e de campinas.

Ergue-se altaneira a serra imponente... Posted by Picasa

SERRA DA ARRÁBIDA

Gaivotas volteiam sobre o calmo mar,
Ondas morrem no areal fino da praia,
A serra mira-se no espelho a cintilar
Da concha rutilante de águas de cambraia.

Miríades de cores brilham com ternura,
Reflectindo as cambiantes de cor cálida
No extenso manto da mata de verdura
Que em tapete cobre a serra da Arrábida.

A natureza com esplendor e encanto
Acorda com suave sussurro do vento,
Pelos vales escorre prateado pranto
Do nocturno orvalho criado ao relento.

As vertentes beijadas num morno matinal
Pelas ligeiras carícias duma ténue aragem,
São quimeras e sonhos dum mundo irreal
Deixados pela brisa presos na ramagem.

Sacode o arvoredo o espesso manto
De neblina que se esfuma lentamente,
A mata desperta em gracioso canto
Que enche de vida a serra imponente.

Dum lado, a praia maravilhosa,
Do outro, a arriba alcantilada,
Cambiantes de paisagem formosa,
Cinzelada por escultor de nomeada.

Ao longe, o Tejo na penumbra,
Mais perto, o pacífico Sado,
Maravilhas que o olhar vislumbra
Num painel de belas tintas pintado.

As entranhas esboroaram sem piedade,
Desbastando algum encanto e beleza,
Chora a mata lágrimas de saudade
Diluídas no vazio da humana pobreza.


A PROCURA

Enorme força sustenta a Natureza
Glorificada pelo humano triunfante,
Como a criança atraída pela beleza
Fascinado revolve Universo distante.

As estrelas olha no escuro universal
Distantes da Terra no Cosmos brilhando,
Luzeiros perdidos no infinito astral
Que lenta descoberta vai desvendando.

Frenética batalha trava a ciência
Com a suprema força que domina
Todo o Cosmos que pela inteligência,
Humanos nos torna e parte divina.

Eterno ingénuo o homem medita
O Natural e Divino que o atormenta
Na viagem buscando origem infinita,
A luz da esperança que o alimenta
.

domingo, outubro 23, 2005

JOGO DO MENINO

Joga menino com a inocência
O jogo duro da vida
Recosido com o destino,
Joga e sonha menino
Com as manhãs de primavera
Sentidas na cálida bruma
E embriagadas de melodia!...
Joga, joga criança macia
Com a infância da tua vida!...

Joga com fantasia e sonhos
Poemas de ternura,
Frágeis vimes entaipados
No paraíso da imaginação!...
Joga e eterniza amor e doçura
Com acordes ressuscitados,
Longe das agonias e perdição
Cobertos de versos risonhos!...

Joga, joga pequenino
Porque o jogo da vida
Faz crescer o menino!...

quinta-feira, setembro 29, 2005

Alinda-se a montanha na sua beleza natural... Posted by Picasa

DESPERTAR ALPINO


Rasga a neblina o nocturno manto
De acolchoado fofo e nupcial,
Rompe o sol com beleza e encanto,
Alindando a manhã bordada a cristal.

Multicolor faúlha o orvalho cintilante
Preso nas ervas que cobrem outeiros,
Ergue-se o sol em concha rutilante,
Afagando os suaves matinais nevoeiros.

Polvilham as colinas tons esverdeados
Diluídos na luz que alastra nas vertentes,
A Natureza acorda de sonhos encantados,
O mundo agita-se na euforia das gentes.

Pairam as nuvens meigas e ligeiras
Como ténue véu que nos beija os pés,
Espreita-se o fulvo sol que pelas ladeiras
Desce lentamente dos cumes aos sopés.

Olha-se o casario no vazio do mundo
Feito de nós amontoados em novelos,
Em surdina murmura o ribeiro profundo
Liberto de agruras feitas de pesadelos.

Ouvem-se nos outeiros e nas quebradas
Ternas melodias entoadas por cantores,
Pelos vales ecoam e pelas alcantiladas,
Lembrando cancioneiros e trovadores.

Entrelaçam-se os píncaros como teias,
No silêncio absoluto e avassalador,
Arrumam-se os pensamentos e as ideias,
Quebram-se as amarras da vida interior.

Abrem-se as grilhetas do acorrentado viver,
Admiram-se os confins de belas paisagens,
Esquece-se o mundo mergulhado no sofrer
Da dura vivência construída de miragens.

Ébrios da beleza que enche a imaginação,
Gozando a montanha que se ergue altiva
Quanta tristeza nos escapa com emoção
Na fuga à realidade passageira e furtiva.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Na escassa sombra da imensa planura... Posted by Picasa

A CEIFEIRA

Não há sombra na imensa planura
Onde brilha a espiga que dará vida,
Tisnada pelo sol encherá de fartura
A côdea de pão com suor revestida.

À sombra dos lenços que cobrem o rosto
Usados como túnica na charneca ardente,
Labuta a ceifeira pelo pão com gosto
Que a alimenta na tristeza sempre presente.

Nascido da terra que lhe deu o sustento
Agarra-se às rudes mãos o trigo alourado
A saliva empapa servindo de alimento
E escalda o corpo pelo calor queimado.

Mistura-se o infortúnio com a solidão
Na desdita impressa no íntimo da alma
Da ceifeira que espera uma amiga mão
Que a conduza a um mundo de paz e calma.

Sobre o dorso vergada o dia inteiro
Num desumano esforço de tortura,
Procura enfrentar com ânimo derradeiro
A lenta caminhada que ruma à sepultura.

No cais deserto fica a saudade... Posted by Picasa

terça-feira, setembro 20, 2005

LEMBRANÇA DE UM ADEUS

Ainda paira no meu peito a amargura
daquela tarde de triste entardecer,
quando rumaste para mundo de aventura,
deixando-me mergulhado em dor e sofrer.

Caía a noite em escuridão serena
no cais da estação onde me despedia,
sobre mim poisava a dolorosa pena
e revestia de luto um coração que sofria.

As horas passei olhando o escuro
onde apenas cintilavam as estrelas,
sofredor lembrava os sonhos do futuro
que me enchiam de ilusões puras e belas.

Se o céu perdoa as falsas juras de amor
envelhecidas pelo tempo e passar dos anos,
que a nostalgia que minh’alma encheu de dor
esqueça a lembrança de todos os desenganos.



________
In Rotas da Vida

segunda-feira, setembro 19, 2005

Batem na costa rochosa as ondas do mar

Posted by Picasa

segunda-feira, setembro 05, 2005

O CIGANO

Viajante do mundo sem lar,
Comunga o que a sorte lhe dita,
Na tradição bebe para se guiar
No rumo como coisa bendita.

Pregão de gentes esquecidas
Na luta contra a amargura,
Vende as ilusões perdidas
Numa vida de aventura.

À família e sina amarrado
Procura uma justiça isenta
E esquecida do passado

Que modifique a desumana
Sociedade que o atormenta
No destino de uma vida cigana.

terça-feira, junho 28, 2005

AMOR PERDOADO

Poisa tua mão sobre a minha
e deixa-me juntá-la ao peito
perto do coração onde se aninha
meu amor que sofre desfeito.

Já não sinto raiva nem ódio
que o ódio enegrece o coração,
meu amor chora teu tédio
e meu viver a minha paixão.

Teus lábios são lavas de vulcão
com labaredas de encanto,
choram de alegria o perdão
despidos de dor e pranto.

Vejo teu corpo de menina
com sonhos de castidade
e no teu olhar a luz pequenina
da alma iluminada de felicidade.
Na calmia dos montes, liberta-se o espirito e invade-nos a saudade dos tempos passados e a nostalgia... Posted by Hello

ESPERA E DESESPERO

Espero-te amor,
sinto-me prisioneiro
e sem teus braços
que me enlaçavam,
dando vida à minha vida,
o meu viver morre
de desespero pela tua ausência
e desfaz-se em pedaços.
Espero-te amor,
dá-me a tua mão amiga,
pois, meu ser habita em ti
e minha alma jaz perdida,
vivendo o sonho da espera,
em longas e sofridas horas
sem amor, ou ternura
e o coração na amargura.
Olha como imploro
já sem forças e quase louco,
a doçura dos teus lábios,
na angústia mergulhado
e no vazio perdido,
clamando por teu amor
com o meu coração ferido...
Meus olhos gotejam lágrimas
e minha boca chama por ti,
chora minh’alma a saudade
dos beijos que em teus lábios bebi...
Vem amor, vem.
vem que espero por ti.
Aconchega-se o Sol no leito de Morfeu e a noite cai... Posted by Hello

sexta-feira, junho 24, 2005

CONFISSÃO

Em horas mortas e silenciosas
no teu olhar o meu mergulhei
e nas preces meigas e saudosas
sereno olhar em teu corpo pousei.

Meus versos com todo o carinho
te dediquei com sentido amor,
pisando o rude e duro caminho
num turbilhão de sombria dor.

Hinos cheios de mágoa e emoção
nas orações de sonhos misturados
sangravam meu sofrido coração
ao relembrar encantos passados.

Ferem-me o coração como lança
as saudades das paixões vividas
onde morava felicidade e esperança
que eternamente ficaram perdidas.

domingo, maio 22, 2005

Milagre de poesia que tudo pintou com pincéis de harmonia e aguarelas de amor!... Posted by Hello

RESSUSCITAR

Cavalga o nevoeiro nas plantas do jardim
ligeiras sombras de suspensas orvalhadas,
despem as auroras as neblinas sem fim
e libertam a Natureza das noites geladas.

Renasce nas florestas um verde manto
num imaginário ressuscitar de ternura
que cobre os valados com trajes de encanto
e com sacros enfeites cheios de formosura.

No espaço morrem as nuvens derradeiras
que flutuam em oceano de suave maresia,
cintila o horizonte, recriando as primeiras
límpidas manhãs misteriosas de poesia.

Enche-se a vida de desejoso viver
na alvura dos dias acabados de renascer!...

Jose Rafael
In «Campos em flor»

segunda-feira, maio 09, 2005

No silêncio dos montes onde o canto do murmurar da água do rio extasia, eleva-se o espírito em contemplação da beleza que nos cerca... Posted by Hello

domingo, maio 08, 2005

ONDAS DO MAR

Se as ondas do mar fossem flores
num jardim orvalhado de beijos
alagariam de perfume e de cores
as pétalas embebidas em desejos.

Ergueriam um clamor de ilusões
germinadas de gotas cristalinas
e desfolhariam em brisas de paixões
acompanhadas de melodias divinas.

Se as ondas do mar fossem ventura
nas primaveris auroras de beleza
inundariam num pranto de ternura
o sonho transbordante de pureza.

Cantariam as alegrias da vida
fechadas em conchas de saudade
que no prazer da vivência querida
bordariam de grinaldas a amizade.

José Rafael
In "Sonhos"

quarta-feira, abril 27, 2005

Lambem ondas a praia extensa em vagas de melodias frescas... Posted by Hello

ALMA PERDIDA

Num lago espelhado te mirei
com os flavos cabelos ao vento,
num oásis perdida te sonhei
na delícia da calma do momento.

Numa casa de cristal te imaginei
cercada de sedução e ternura,
meu olhar para o teu levantei
e um rubor te cobriu de doçura.

Num deserto sozinha te encontrei
em meditação perene e ausente,
no silêncio teu soluço escutei
numa prece em cântico ardente.

Num sonho nossas vidas juntei
com anéis ligados pelo amor,
numa promessa amar-te jurei
nos momentos de alegria e dor.

José Rafael
In "Hino à mulher"

terça-feira, abril 26, 2005

Nos píncaros da serra onde o silêncio é profundo expande-se a alma e liberta-se o espírito... Posted by Hello

domingo, abril 24, 2005

O ALENTEJANO

Na planície semi-deserta e quente
onde a dureza é pão de cada dia,
quanta angústia se expressa e sente
nos tristes cantes cheios de melodia.

O sol aquece a charneca despida,
torrando a terra e tisnando o rosto,
verga-se a razão ao peso da vida
na ceifa diária d'um pão sem gosto.

Garaganta seca e olhos lacrimejantes
regam a terra de ardentes fornalhas,
pela fadiga vergado e suores constantes,
sonha venturas, vencendo batalhas.

As palhas ceifa do trigo alourado,
enchendo de fardos o calcinado chão,
fica a charneca com um tom torrado,
despida de trigo e envolta em solidão.

Exausto e cansado pela dura labuta,
olha com saudade a planície imensa
o homem que não verga e insiste na luta
de desbravar a charneca agreste e extensa.

sábado, abril 23, 2005

Paisagem alentejana com extensa seara Posted by Hello

sexta-feira, abril 22, 2005

ETERNA DESILUSÃO

Passa por mim a brisa
num afago de recordações,
rouba-me os sonhos
que me enchem a alma
e tudo se esvazia,
pois, tudo o que toco
é miragem fugidia
e aparente ilusão
de um viver que corre
no deslizar do tempo
que se escoa e morre
numa eterna desilusão.

José Rafael

domingo, abril 10, 2005

Rio selvagem que bonançoso corre entre as verdes matas a caminho do mar. Posted by Hello

CHORO DAS ROSAS

Fecham-se na noite fria
rosas imaculadas e singelas,
perdem no murcho a alegria
mas não deixam de ser belas.

O orvalho do nocturno relento
orvalhadas deixa as flores
que afagadas pelo suave vento
cintilam com variegadas cores.

Poisa o luar na noite estrelada
sobre jardim de flores mimosas,
seu brilho expande até à alvorada
e aviva o choro das lindas rosas.

Amanhece o dia em cantante aurora
e nos cerros desponta o sol a brilhar,
acorda a Natureza campos fora
e as rosas animam e param de chorar.
Lago de montanha Posted by Hello

RUMOS ERRADOS

Que boca a minha boca beijou,
que corpo minhas mãos tocaram,
que mágoa no teu coração se alojou
que sem brilho teus olhos ficaram!

Que paixão nos uniu e morreu,
que lança nosso amor matou,
que muro entre nós se ergueu
que p'ra sempre as almas separou!

Que cruz carregámos toda a vida
que aos ombros transpotámos vergados,
que caminho ou rota desconhecida
que nos arrastou para rumos errados!

Que encontraremos no final da estrada
que percorremos até à morte certa,
que haverá para lá desta caminhada
que nos conduzirá a parte incerta
!
Noite de inverno com reflexo das árvores no lago Posted by Hello

sábado, abril 09, 2005

SINFONIA DE LABAREDAS

Sinfonia de labaredas
lambe os altos pinheiros
e engole o brilho esmeraldino,
transformando-o em braseiros.
No negrume das serras
arde o corpo e a alma
num altar de cinzas
deixadas pelas chamas,
onde o vento sussurra
por entre nus penedos.
Soluça o pinhal requiems
com brados cheios de dor,
cai nas chamas a vida
e afunda nos escombros
consumida pelo horror.
Secam nas serras as fontes
que alimentavam ribeiros,
morre a floresta queimada
no fogo ardente perdida
em dias de angústia e cinza
pelos valados e outeiros.


José Rafael

AMOR DISTANTE

Ao ver-me na solidão
e desolado com a tristeza,
percebi que tua ausência
se perdera na distância
bem longe do meu olhar.
Lavrava em mim a amargura
de não amar tua beleza,
turvaram os meus olhos
e a minha boca emudecida
contagiada pela incerteza
deixou a palavra adormecida
no limiar da minha razão.
Se o silêncio ateia a dor
do distante coração
que a mágoa dura e fria
arda na chama amarga do fel
e queime toda a minha solidão
e todo o meu negrume de agonia,
inundando minha vida
de outro amor e outra paixão.

quinta-feira, abril 07, 2005

CARENTE DE AMOR

Inunda meus sonhos de carícias
e poisa em meus lábios ardentes
o beijo com que te delicias
no ardor que tu própria sentes.

Dorme na minha imaginação
um amor triste e esquecido,
amarrado por laços à solidão
à espera d'outro amor perdido.

Abre as portas da tua mansão
e deixa que ela sirva de abrigo
a um amor que no teu coração
encontre finalmente um amigo.

Invoca amor minha boca
sedenta da tua boca e beijos
que presa a uma paixão louca
implora penitentes desejos.

quarta-feira, março 23, 2005

ADEUS PASSADO





Adeus brisas da minha terra
perfumadas de urzes e alecrim
que pelos contrafortes da serra
odorizam montes sem fim.

Adeus ribeira de água pura
onde se miram os salgueirais
cheios de melodias de ternura
e cânticos alegres de pardais.

Adeus belos moinhos da ponte
dos tempos do meu passado
em que no jorrar da velha fonte
bebia o amante apaixonado.

Adeus ermida e Monte Carmelo
onde a Senhora do Carmo mora,
quanto amor puro e singelo
casado com preces de outrora.

Adeus sonhos da minha infância
que os meus dias alegravam,
quantas ilusões de criança
nas fantasias que me encantavam.

________
In Rotas da Vida

terça-feira, março 22, 2005

CORAÇÃO ABERTO

No meu peito moram cravos
que não cessam de chorar,
tintos de sangue e escravos,
cansados do longo caminhar.

Na minha garganta já sem voz
soluça o pão da loucura,
sem asas agoniza a sós
os espinhos da amargura.

Nos meus olhos chora a dor
da crua mágoa silenciosa,
fonte duma paixão sem amor,
pranto de de vida horrorosa.

Os meus braços vou abrir
cheios de papoilas e pão,
semeando sonhos e sorrir
em seara de alegria e emoção.

segunda-feira, março 21, 2005

AMOR SEM ABRIGO

Apaga meu ardor com beijos
e enche minh'alma de ternura,
acende em mim loucos desejos
que me afoguem em mar de ventura.

Deixa que teu corpo de encanto
se albergue na minha imaginação
e me cubra com sagrado manto,
tecido d'eterna e louca paixão.

Embala-me no teu colo de menina
com sentidas e fortes emoções,
acolhe-me na tua alma pequenina
e abriga meus segredos e emoções.

Estende para mim teus braços
e recebe em tuas mãos meu amor
que sem morada e em pedaços
vive em mar de lágrimas e dor.

domingo, março 13, 2005

PENSO EM TI

Penso em ti quando enamorada
navegavas num mundo de ilusão,
teus olhos meigos na face rosada
eram liras dedilhadas com emoção.

Amar teus olhos como escravo
e beijar tua boca colorida,
secar tuas lágrimas com afago
era o maior sinho da minha vida.

Meu amor era um rio em caudal,
era o pão na mesa do apaixonado
e o fruto amargo e desejado...

Era a dor que abraçava divinal,
o fel que me queimava como lume
e me enchia a alma de azedume.

José Rafael

CAMINHO PERCORRIDO

Houve flores pelos caminhos
que alegraram o viver,
houve tristeza e espinhos
misturados com dor e sofrer.

Houve promessas não vividas
em estranhas palavras loucas,
houve lágrimas enternecidas
no reviver de coisas poucas.

Houve desejos inocentes
que se perderam sem glória,
houve paixões ardentes
que morreram sem história.

Houve surpresas e desenganos
num caminhar de águas mansas,
houve sofrimentos desumanos
confortados com breves esperanças.

José Rafael

MIRA DA SERRA