segunda-feira, novembro 07, 2005

ENTARDECER DE CHUVA

Como lágrima na face do rosto
Chove torrencialmente no pinhal,
Escoa-se a chuva que morre
Nos penedos por onde escorre
Com eco abafado e igual
Pelas quebradas ao sol-posto.

Gemem carros pelo caminho
Em estridente e agudo canto,
Carregam pinheiros pesados
Pela resina ensanguentados,
Enquanto o vento com pranto
As ovelhas afaga de mansinho.

Sacudido por brisas frescas
Baloiça o pinhal ao vento,
Cai copiosa chuva na sama
Que ao rebanho serve de cama
Na busca do viçoso alimento
Escondido entre as giestas.

No outeiro soam baladas
Que na flauta toca o pastor
E o rebanho atento escuta
Na azáfama e na labuta
Do viver e do seu labor
Num ecoar pelas quebradas.

O sol adormece no seu leito,
A sombra alastra lentamente,
Invade o barroco adormecido
Como fantasma perdido
Nas entranhas do vale dormente
Por onde corre riacho estreito

Cheia de silêncio e nevoeiro
Cerra-se a noite moribunda,
Enquanto o cão atarefado
Conduz o rebanho apressado
No pinhal onde o escuro abunda
Rumo ao curral estrumeiro.

Sem comentários: