quarta-feira, setembro 21, 2005

A CEIFEIRA

Não há sombra na imensa planura
Onde brilha a espiga que dará vida,
Tisnada pelo sol encherá de fartura
A côdea de pão com suor revestida.

À sombra dos lenços que cobrem o rosto
Usados como túnica na charneca ardente,
Labuta a ceifeira pelo pão com gosto
Que a alimenta na tristeza sempre presente.

Nascido da terra que lhe deu o sustento
Agarra-se às rudes mãos o trigo alourado
A saliva empapa servindo de alimento
E escalda o corpo pelo calor queimado.

Mistura-se o infortúnio com a solidão
Na desdita impressa no íntimo da alma
Da ceifeira que espera uma amiga mão
Que a conduza a um mundo de paz e calma.

Sobre o dorso vergada o dia inteiro
Num desumano esforço de tortura,
Procura enfrentar com ânimo derradeiro
A lenta caminhada que ruma à sepultura.

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