quinta-feira, setembro 29, 2005

Alinda-se a montanha na sua beleza natural... Posted by Picasa

DESPERTAR ALPINO


Rasga a neblina o nocturno manto
De acolchoado fofo e nupcial,
Rompe o sol com beleza e encanto,
Alindando a manhã bordada a cristal.

Multicolor faúlha o orvalho cintilante
Preso nas ervas que cobrem outeiros,
Ergue-se o sol em concha rutilante,
Afagando os suaves matinais nevoeiros.

Polvilham as colinas tons esverdeados
Diluídos na luz que alastra nas vertentes,
A Natureza acorda de sonhos encantados,
O mundo agita-se na euforia das gentes.

Pairam as nuvens meigas e ligeiras
Como ténue véu que nos beija os pés,
Espreita-se o fulvo sol que pelas ladeiras
Desce lentamente dos cumes aos sopés.

Olha-se o casario no vazio do mundo
Feito de nós amontoados em novelos,
Em surdina murmura o ribeiro profundo
Liberto de agruras feitas de pesadelos.

Ouvem-se nos outeiros e nas quebradas
Ternas melodias entoadas por cantores,
Pelos vales ecoam e pelas alcantiladas,
Lembrando cancioneiros e trovadores.

Entrelaçam-se os píncaros como teias,
No silêncio absoluto e avassalador,
Arrumam-se os pensamentos e as ideias,
Quebram-se as amarras da vida interior.

Abrem-se as grilhetas do acorrentado viver,
Admiram-se os confins de belas paisagens,
Esquece-se o mundo mergulhado no sofrer
Da dura vivência construída de miragens.

Ébrios da beleza que enche a imaginação,
Gozando a montanha que se ergue altiva
Quanta tristeza nos escapa com emoção
Na fuga à realidade passageira e furtiva.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Na escassa sombra da imensa planura... Posted by Picasa

A CEIFEIRA

Não há sombra na imensa planura
Onde brilha a espiga que dará vida,
Tisnada pelo sol encherá de fartura
A côdea de pão com suor revestida.

À sombra dos lenços que cobrem o rosto
Usados como túnica na charneca ardente,
Labuta a ceifeira pelo pão com gosto
Que a alimenta na tristeza sempre presente.

Nascido da terra que lhe deu o sustento
Agarra-se às rudes mãos o trigo alourado
A saliva empapa servindo de alimento
E escalda o corpo pelo calor queimado.

Mistura-se o infortúnio com a solidão
Na desdita impressa no íntimo da alma
Da ceifeira que espera uma amiga mão
Que a conduza a um mundo de paz e calma.

Sobre o dorso vergada o dia inteiro
Num desumano esforço de tortura,
Procura enfrentar com ânimo derradeiro
A lenta caminhada que ruma à sepultura.

No cais deserto fica a saudade... Posted by Picasa

terça-feira, setembro 20, 2005

LEMBRANÇA DE UM ADEUS

Ainda paira no meu peito a amargura
daquela tarde de triste entardecer,
quando rumaste para mundo de aventura,
deixando-me mergulhado em dor e sofrer.

Caía a noite em escuridão serena
no cais da estação onde me despedia,
sobre mim poisava a dolorosa pena
e revestia de luto um coração que sofria.

As horas passei olhando o escuro
onde apenas cintilavam as estrelas,
sofredor lembrava os sonhos do futuro
que me enchiam de ilusões puras e belas.

Se o céu perdoa as falsas juras de amor
envelhecidas pelo tempo e passar dos anos,
que a nostalgia que minh’alma encheu de dor
esqueça a lembrança de todos os desenganos.



________
In Rotas da Vida

segunda-feira, setembro 19, 2005

Batem na costa rochosa as ondas do mar

Posted by Picasa

segunda-feira, setembro 05, 2005

O CIGANO

Viajante do mundo sem lar,
Comunga o que a sorte lhe dita,
Na tradição bebe para se guiar
No rumo como coisa bendita.

Pregão de gentes esquecidas
Na luta contra a amargura,
Vende as ilusões perdidas
Numa vida de aventura.

À família e sina amarrado
Procura uma justiça isenta
E esquecida do passado

Que modifique a desumana
Sociedade que o atormenta
No destino de uma vida cigana.