segunda-feira, dezembro 24, 2007
O PASTOR
e lá longe o sol começa a despertar,
brilhos multicolores o orvalho irradia
nos montes silenciosos e seu acordar.
Cumprindo o destino da própria vida
num ardoroso labutar a toda a hora,
entrega-se o pastor à dureza da lida
de partir pela madrugada campos fora.
Ensinado pelas aves a sorrir e a cantar
nos cerros e montes onde mora o encanto,
quantas vezes com vontade de chorar
alivia as dores com o próprio canto.
Como companhia tem o carinho do gado,
almas irmanadas numa mesma solidão,
que seduzidas pelos encantos do prado
apagam a tristeza com a mesma canção.
Fustigados pelo frio ou estival calor
percorrem os carreiros da mesma sorte,
lutam em desigualdade com afinco e ardor
que vai esmorecendo até findar na morte.
segunda-feira, novembro 07, 2005
ENTARDECER DE CHUVA
Como lágrima na face do rosto Chove torrencialmente no pinhal, Escoa-se a chuva que morre Nos penedos por onde escorre Com eco abafado e igual Pelas quebradas ao sol-posto. Gemem carros pelo caminho Em estridente e agudo canto, Carregam pinheiros pesados Pela resina ensanguentados, Enquanto o vento com pranto As ovelhas afaga de mansinho. Sacudido por brisas frescas Baloiça o pinhal ao vento, Cai copiosa chuva na sama Que ao rebanho serve de cama Na busca do viçoso alimento Escondido entre as giestas. No outeiro soam baladas Que na flauta toca o pastor E o rebanho atento escuta Na azáfama e na labuta Do viver e do seu labor Num ecoar pelas quebradas. O sol adormece no seu leito, A sombra alastra lentamente, Invade o barroco adormecido Como fantasma perdido Nas entranhas do vale dormente Por onde corre riacho estreito Cheia de silêncio e nevoeiro Cerra-se a noite moribunda, Enquanto o cão atarefado Conduz o rebanho apressado No pinhal onde o escuro abunda Rumo ao curral estrumeiro. |
terça-feira, outubro 25, 2005
OS VELHINHOS
Quando olho os trôpegos velhinhos Trémulos no andar rumo ao sol-posto, Lembra-me os caminheiros sozinhos Com o cansaço estampado no rosto. Nas noites calmas vigiam, acordados, O luar que lentamente desaparece E revivem dos tempos passados Os sonhos que a mente não esquece. Solitários nas escuras noites sem sono Com memória quase esgotada e gasta, São como folhas caducas no Outono Perdidos nas recordações primeiras Com o pesado corpo que se arrasta Empurrado pelas forças derradeiras... |
MIRAGEM
Olhava-te e eras o nada, Mas ao olhar-te apercebia Que o teu ser existia Para lá do horizonte Com corpo e alma!... Eras virtual imagem A bailar mesmo defronte Pelas areias afogada!... Vestida de manto multicolor Tremulando na ilusão E esbatida na paisagem, Eras como simples miragem Perdida na imensidão!... Tu existias na verdade Com as tuas casas e artérias Casada com areia e calor, Confundindo a realidade Com o teu brilho sedutor Mas com vida nas tuas veias!... |
segunda-feira, outubro 24, 2005
DIAS FELIZES
Como os dias corriam lentos Como eram perfumados os campos |